domingo, 27 de janeiro de 2013

A Ilha Grega da Idade Avançada

A matéria abaixo é uma tradução livre da reportagem da BBC que você pode conferir aqui.

É impressionante ver como os ideais de saúde e qualidade de vida apregoados há tanto tempo na Bíblia e por seus seguidores mais convictos resultam em maior longevidade e felicidade. Tirando uma pequena concepção errônea do papel do álcool na saúde (defendida pelo entrevistado, não pela reportagem), este é um belíssimo exemplo do segredo para uma vida melhor.

A Ilha Grega da Idade Avançada

Pode ser o ar puro e o amistoso e descompromissado estilo de vida ao ar-livre. Pode ser os vegetais frescos e o leite de cabras.

Pode ser o terreno montanhoso. Tudo em Ikaria é "pra cima" ou "pra baixo", então qualquer "dar uma voltinha" faz você ficar em forma.

Pode ser mesmo a radiação natural nas rochas de granito. Mas Stamatis Moraitis acha que ele sabe o que é.

"É o vinho" [que pena, os bebuns de plantão e sua teoria de ser conservado em álcool], ele diz, sobre um copo em sua mesa da cozinha. "É puro, nada adicionado. O vinho que se faz comercialmente tem conservantes. Isto não é bom [o álcool também não, melhor seria só o suco da uva]. Ms o vinho que nós mesmos fazemos é puro".

Stamatis comemorou seu nonagésimo oitavo aniversário no dia de ano novo. Ele diz que é mais velho, mas seus documentos põem sua data de nascimento como 1º de janeiro de 1915. Fora de sua casa caiada estão suas amadas oliveiras, seus pés de frutas e suas videiras. Ele faz 700 litros de vinho por ano, diz.

"Voce toma tudo isto sozinho?" Eu pergunto. "Não!" - Ele se choca com a sugestão. "Eu bebo isto com meus amigos".

O vinho, os dias de convívio gastos com amigos e família, ajudam a fazer de Stamatis um garoto-propaganda dos efeitos saudáveis de Ikaria. Quarenta e cinco anos atrás, vivendo nos Estados Unidos, ele foi diagnosticado com câncer de pulmão, e foi-lhe dado nove meses de vida.

"Àquele tempo era muito caro fazer um funeral lá", ele lembra. "Então, eu disse à minha esposa 'eu estou indo pra casa em Ikaria, para ser enterrado com meus pais'".

Atualmente ele tem um brilho em seu olhar e está indo muito bem. É uma história que ele já contou muitas vezes, e ele claramente não se cansa de contar.

"Eu encontrei meus amigos na vila onde nasci, e nós começamos a beber. Eu pensei que ao menos eu iria morrer feliz".

"Todo dia nós nos encontrávamos, bebíamos vinho. E eu esperei. O tempo passou e eu me senti mais forte. Nove meses passaram, e eu me senti bem. Onze meses e eu me senti melhor ainda. E agora, 45 anos depois, eu continuo aqui!"

"Poucos anos atrás eu voltei aos EUA e tentei encontrar meus médicos. Mas eu não pude. Eles estavam todos mortos."

Existem muitas histórias como esta em Ikaria. Algumas podem ser apenas estórias, mas em anos recentes cientistas e médicos têm ido à ilha não muito longe da costa da Turquia para encontrar a história real.

Ikaria tem seu nome do mito grego de Ícaro que, como diz a lenda, afundou no mar perto da ilha quando suas asas de cera e penas derreteram. Por séculos ela foi considerada como um destino terapêutico por suas fontes termais naturais.

Mais recentemente ela foi identificada como uma de um pequeno número das chamadas "zonas azuis" pelo autor Dan Buettner e a National Geographic, onde os moradores desfrutam de grande longevidade. Outros lugares incluem Okinawa, no Japão, Sardenha na Itália e Loma Linda, na Califórnia [adventistas].

O trabalho mais compreensivo em Ikaria foi feito pela Unviersidade de Atenas, cujos pesquisadores estudaram os ilhéus acima de 65 anos de didade. Na média, os 8 mil moradores vivem 10 anos a mais que a maioria dos Europeus e com muito melhor saúde no final.

Há muitos fatores significativos sobre o estilo de vida dos ilhéus que podem contribuir para sua longevidade.

Mesmo comparados com a tradicional Dieta do Mediterrâneo, os Ikarianos comem muito peixe e vegetais, e relativamente pouca carne.

Seis em cada 10 pessoas acima de 90 anos continuam fisicamente ativas, comparados com apenas 20% em outros lugares. A maior parte da comida é cozida em óleo de oliva. Grandes quantidades de verduras silvestres e ervas são colhidas das encostas tanto para comida como para fins medicinais.

Muitas pessoas de idade faze um uma mistura diária de chás de ervas secas da montanha, como sálvia, tomilho, hortelã e camomila, e adoçam com mel de abelhas locais. "Isto cura tudo", afirma Stamatis.

Muitas das ervas silvestres são usadas por pessoas ao redor do mundo como remédios tradicionais. Elas são ricas em antioxidantes e também contém diuréticos que podem baixar a pressão arterial.

Os pesquisadores acreditam que outros elementos do estilo de vida são também significantes.

Níveis de fumo são relativamente baixos, sestas ao meio dia são a regra, o ritmo de vida é lento e as pessoas socializam-se frequentemente com amigos e família, bebendo moderadamente vinho.

Famílias grandes dão às pessoas idosas um importante papel na sociedade. Os níveis de depressão e demência são baixos.

A Doutora Christina Chrysohoou, uma cardiologista da Unviersidade de Atenas que tem estudado os ilhéus, diz que eles sofrem o mesmo tipo de doenças como câncer e problemas cardiovasculares como as pessoas de outros lugares, mas mais tarde em suas vidas.

"A Ikaria  nos dá uma oportunidade de estudar por que estas pessoas desfrutam destes efeitos benéficos. Nós não podemos evitar estas doenças, mas eles conseguem preservar a qualidade de suas vidas por muitos anos. A idade média para doenças cardiovasculares é de 55 a 60 anos. Na Ikaria elas vêm 10 anos mais tarde".

Futuras linhas de pesquisa para a Universidade incluem estudos geológicos sobre se a ocorrência natural de elementos radioativos, como o rádio [elemento 88 da tabela periódica], pode ter efeito no câncer.

Também existe pesquisa genética que compara os ilhéus com os ikarianos que emigraram e vivem um estilo de vida diferente.

Reunir-se com alguns dos mais velhos moradores faz você apreciar o seu passo de tempo.

A mesa de jantar é cheia de deliciosas iguarias ikarianas. "É apenas um lanchinho", insiste Voula, esposa de George Kassiotis, 102 anos, enquanto este puxa sua identidade mostrando sua data de nascimento em 1910 e fala de sua infância.

Ao seu lado estão fotos dele na cavalaria grega em 1931. Ele lutou contra os italianos na Albânia durante a Segunda Guerra Mundial e depois ajudou a construir a primeira estrada de ferro na ilha antes de se aposentar em 1970.

"Eu não como comida industrializada, eu não fumo e eu não me estresso", diz George Kassiotis. "Eu não me preocupo com a morte. Nos sabemos que todos estamos indo para lá".

A geração mais nova parece estar mantendo as tradições. Nós comemos outra refeição na casa de Nikos Karoutsos, um proprietário de hotel nos seus 50 anos, e testemunhamos a visão de muitos amigos e família entrando para uma bebida e alguma coisa para comer.

"Nós não temos boates ou discotecas ", ele diz, enquanto as pessoas exibem taças de vinho tinto derramado de grandes garrafões de plástico. A porta está sempre aberta, não há necessidade de pedir para entrar [por coincidência hoje 232 pessoas morreram em um trágico incêndio em uma boate de Santa Maria - RS].

Enquanto isto, os adolescentes movem-se da mesa para o computador, para bater papo no Facebook.

De volta ao lar de Stamatis Moraitis, de 98 anos, nós o deixamos em uma escada para colher azeitonas de suas oliveiras.

"Eu estou feliz por ainda poder fazer isto" ele diz com uma gargalhada. "Eu me sinto muito mais saudável aqui em cima".






2 comentários:

Bety disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Bety disse...

Muito bom o comentário, Alexsander.Parabéns!